28 junho, 2010

(D)efeitos de Sobrevivência

Oi oi ^^

Decidi colocar um texto que escrevi faz algum tempo, pra marcar a estréia por aqui. Nada muito especial mas que determina bem meu modo de pensar sobre as coisas.



(D)efeitos de Sobrevivência


“Um dia me disseram que os ventos erram a direção
E tudo ficou tão claro, como um intervalo na escuridão,
Uma estrela de brilho raro, um disparo para o coração...”

Engenheiros do Hawaii – Somos quem podemos ser


O sol começava a se expor. Ele acordou e percebeu que não sentia nada por dentro, era tudo controlado, plastificado. Não ligou para seu escritório, não leu o jornal, não colocou sua gravata, resolveu inconscientemente ir ao mar. Via a todos que passavam na rua como grandezas e que nunca poderia alcançá-las pelo seu interior completamente vazio de sensações. Dentro de seu carro de ultima geração, tentava ter raiva, ódio, compaixão, produzir felicidade como uma mercadoria consumível... Nada, as pessoas em sua volta agiam perfeitamente com essas sensações, mas, ele permanecia bloqueado desse meio sensitivo.
Pensou em como tudo isso lhe ocorrera, ontem parecia tão “normal”. Apertara a mão dos que não gostava e alias, de quem realmente gostava? Não era de si, não era de seus pais e muitos menos das mulheres que cortejava por pura diversão, distração ou seja lá qual for a característica que julgue tal coisa completamente “saudável”. Tinha suas metas porque acreditava que sonhar era algo fútil demais para um maduro homem que vestia sua imagem disfarçada, e ainda tinha coragem para se olhar no espelho, e mesmo que não se reconhecesse através daquela imagem espelhada, nunca se sentira ofendido pela invasão em sua própria figura.
Chegou à praia, avistou o mar, recebeu a onda, engoliu maresia... Nada. Sentou atônito na areia úmida. Via o céu e imaginava há quanto tempo não o fazia, alias, não o fazia por não ter tempo para essas coisas, sua vida era completa de concreto e decisões... Perdeu-se no meio do caminho, perdeu-se na indiferença do burocrata, na ineficiência dos que não vivem mais. Pequenos robôs, grandes lucros... É, isso ainda conta... Isso ainda define quem podemos ser. O homem robô respira ofegante, talvez seja tarde demais para sair de sua condição, talvez este surto de realidade não passe e fique preso no instante em que percebera tudo o que perdeu, triste jogo... Seu coração blindado resolve pedir perdão, suas mãos tocam o rosto como se tentasse arrancar uma mascara que definia o que ele era até então... Não encontra nada preso a si, mas não desiste, observa as pessoas e tenta encará-las, tenta dialogar como se as conhecesse desde sua infância... Deita no chão, canta uma música e resolve voltar pra casa. A ducha quente tira a areia e a complexidade do seu vazio, o vapor da água purifica, começa assim, a se metamorfosear.
Sua pele sentiu frio e a sua existência principia-se a ser algo interessante, descongelou-se de seu estado submisso e conseguiu sentir medo do que estava por vir, e descobriu que este mesmo medo era simplesmente à vontade de virar pro outro lado da esquina... Direita ou esquerda, pensou: “Tanto faz, desde que seja meu próprio destino”. Fez as malas, não olhou pra trás afinal, não deixava nada para trás a não ser tempos perdidos e correntes quebradas. Partiu sem destino, ou melhor, em rumo a vida que apenas lhe começara.

5 comentários:

  1. Não sabia que a Vick escrevia não. Ainda mais um texto tão bom de ser digerido!
    Gostei muito texto, continuem movimentando isso aqui, algumas vezes eu estarei bebado e virei aqui antes de dormir.

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  2. hehe... Escrevo sim, que bom que vc le aqui. Já tenho com quem filosofar sobre ele.

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  3. Pois é, não sei se filosofaremos, mas podemos ver muitas coisas acerca disso aí e disso aqui, acendaosfarois.blogspot.com

    Beijo grande!

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  4. adorei o texto débora!!!! muito foda! parabéns

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  5. Vlw por ter lido o blog Fábio, bom esse texto ae é de uma amiga minha, que passou a me ajudar no blog rsrs

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