12 dezembro, 2009

"- Se você quiser, eu fico..."


- Se você quiser eu fico - disse, enquanto ela ainda estava à mesa com o copo de café nas mãos.

Ele, de pé em frente a mesa, esperava uma resposta que não vinha. Haveria silêncio entre os dois naquele instante se não fosse o som de um ou outro carro lá fora.
Ela continuava a tomar seu café naturalmente, indiferente a presença dele. Mas por que, afinal, haveria de se importar?
À sua frente estava um homem que ela conhecia há sete anos, e nos últimos quatro anos destes sete ela não deixava de pensar nele - mesmo sem saber por que a imagem deste invadia seus pensamentos.
Seria ela apaixonada por ele? Mas afinal o que é paixão; uma variavel que criamos para facilitar o entendimento de certos sentimentos e desejos? (Facilitar, pois o amor dificulta, é dificil de entender!)
Seja o que for, ela não estava interessada em refletir sobre isto agora.
O homem de terno de risca de giz continuava a mirá-la com seus olhos azuis-claro. Há pouco, ele estava no aeroporto esperando seu vôo para a Europa - proposta de trabalho, alcançara o grande sonho de sua vida à base de muito esforço e disciplina, trabalharia na sede de sua empresa, na Europa. Mas enquanto estava sentado nas poltronas vermelhas do aeroporto, pensava se seria feliz escondendo por toda a sua vida seu amor pela amiga, o que o vinha faznedo há mais ou menos cinco anos. Um pouco tarde para isto, mas oras, não dizem que nunca é tarde para arriscar? Resolveu então tomar um táxi até o apartamento da amiga - não sem antes passar em uma floricultura e comprar um buquê de rosas vermelhas. Declarou-se à ela e agora estava ali, esperando uma resposta.
Os olhos castanhos da mulher se encontraram com os azuis por alguns instantes e passaram a admirar o azulejo quadriculado da cozinha - preto e branco, preto e branco, sim ou não, sim ou não...
Eram um grupo de amigos de londa data, bons companheiros de bares, baladas, cinemas, lágrimas e alegrias; eram todos íntimos entre si, formou-se até um casal entre eles. Não dificilmente ela imaginava como seria dormir e acordar todos os dias com a mesma pessoa, além de dividir responsabilidades... Marina e Lucas pareciam tão felizes, apaixonados, e isso parecia tão bom...
Não era raro ela imaginar como seria se ele estivesse com ela, nas madrugadas em que chegava depois da saideira dos finais de semana com os amigos.
Não seria dificil deparar-se com aquele par de olhos azuis todas as manhãs... Mas que impulso fora este que o tomou para ir à sua casa, perder seu vôo, complicar-se, e sua tão almejada promoção...? E com tudo isto ainda tinha uma veia romântica, lhe trouxera flores...
Por fim quebrou o silêncio:

- Não!

As sombrancelhas negras agora se contraiam numa expressão de incredulidade*:

- O quê? - ele engasgou por fim, a garganta dóia.

- Não. - repetiu a outra camalmente, mirando-o e tomando uma gole de seu café - Sinto muito, mas somos grandes amigos e quero que isto continue.

O orgulho lutava para que uma lágrima não escorresse em seu rosto e quando finalmente esta ia ceder, foi-se embora, sem bater a porta. Foi-se embora da mesma maneira que chegara até ali, repentinamente, sem nenhum aviso prévio, discreto, como ele sempre fora.

Ela continuava a degustar seu café da manhã, mordia agora um cream cracker tranquilamente...

Quadrado, cheio de perfeições, isto me desgasta, não sou perfeita; pensou.




É curioso como alguns seres humanos rejeitam qualquer situação em que a liberdade de seu coração possa ser violada, diferentemente de outros.

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