27 setembro, 2009

Esboço de um fragmento de conto (II)


- É estranho. Você parece ter se tornado oca por dentro, você não costumava ser tão vazia assim. receava que sua nova rotina fizesse isto, mas não acreditava de fato...

- Preciso me encontrar, mas não sei onde estou; talvez tenha atravessado uma avenida e caído num beco sem saída, ou devo estar ainda parada no meio de um cruzamento sem saber pra onde ir e com preguiça. As vezes me engasgo pois tenho muitas coisas a dizer e não consigo expressá-las, mas isto pode ser também ser uma ilusão, uma desculpa inventada por mim mesma para falsear a verdade de que estou completamente vazia por dentro; fui deixando partes de mim nos lugares por onde passei - sem renovar-me - acho que esqueci de trazer as lembranças... [longo silêncio] Estou pensando seriamente em abrir a porta, ir pra fora, sentir a chuva no meu rosto, pra ter certeza de que ao menos estou viva...

- Por que diz isto? Não respiras ainda?

- respiro, acho que respiro. Mas as vezes acho que aqui, não pulsa mais um coração, não orgânico. Sinto que ele foi substituido por um mecânico, e que está contaminando meu cerebro. Não sinto mais como antes, minha sensibilidade foi afetada. Olhe o quão egocentrica, vazia, não falei de mais nada além de mim mesma, sinto-me chata, entende? Não consigo mais chorar.

[Silêncio das duas, ouve-se apenas o crepitar da lareira e a chuva]

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