08 abril, 2010

Inalcançável...


“Posso ouvir o vento passar, assistir à onda bater, mas o estrago que faz a vida é curta pra ver...”


Parecia inalcançável, diva, magnífica, auto-suficiente. Seus cabelos sedosos e castanhos, seus olhos azul-acinzentados, sempre muito bem delineados... Seu sorriso era de uma leveza e de um brilho tal que fazia os demais sorrirem mesmo sem saber por que sorriam. Seu olhar era tal que penetrava n’alma e parecia ver tudo aquilo que estava escondido por alguma razão... Mas ela não perdia seu tempo olhando para qualquer coisa, qualquer pessoa...
Parecia tão inatingível... forte, determinada, que poucos atreviam a dirigir-lhe a palavra, no máximo ficavam por perto, em algum encontro casual; e aqueles que lhe eram familiares, com os quais ela tanto conversava, eram – por vezes – invejados...

Inalcançável...

Mal sabiam, até mesmo aquelas pessoas com as quais ela dispensava horas de conversa e risos, o que se passava nos momentos mais quietos da noite, ou até mesmo de alguns dias cinzas... Certamente, quem a conhecia somente a desfilar sob o par de saltos agulhas – sim,desfilar, porque o seu andar, não se resumia a uma simples troca de passos, tinha algo mais, sutil,admirável... Certamente, quem a conhecia somente a desfilar sob o par de saltos agulhas, sob a maquiagem impecável que tanto dava profundidade aos seus olhos, não sabia da verdade, da dor daqueles olhos... Não imaginava que toda a perfeição de seu ser se desmanchava em vermelho, roxo e negro – vermelho cor do sangue, roxo cor do vinho e negro da seda de seus lençóis... Aqueles olhos eram dor; ela era toda dor anestesiada. Sufocava-se na sua própria angústia de saber que não tinha ninguém a quem recorrer, ninguém para confiar, pois todos aqueles rostos eram tão vazios, a enojavam de fato... Mas fingia, simulava alegria, elegância e uma auto-confiança que não era toda sua, no entanto, era tão boa atriz que comovia a todos... Enternecia a todos de um jeito que não conseguia a si mesma... E por isso preferia prosseguir com a farsa de cada dia nublado, escondendo as cicatrizes da noite anterior.


Afinal, se o poeta finge que é dor, porque uma pessoa não pode fingir ser alegria? Ou melhor, fingir insensibilidade.

4 comentários:

  1. Engraçado que; ontem peguei um velho livro do Caio F. para rerererereler (pode ter faltado algum "re", peço que me perdoe). Quando abri meu armário, para pegar "Morangos Mofados", me lembrei de tu tmbm aprecia a obra dele. Já fazia algum tempo que eu não via meu blog, ver seu comentário lá me deixou feliz.

    Se Morangos Mofados lhe agrada, não se case antes de me conhecer.


    Beijo grande Dona Deh. Fique bem sempre!

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  2. Acho que o fato de transformar a dor em poesia, é, em suas devidas proporções, igual ao de transfigurá-la nas aparências.

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  3. Parabéns pelo blog. Já sou seguidor. Um abraço de Brasília.
    Sandro Neiva
    www.pervitinfilmes.blogspot.com

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  4. "Se a gente já não sabe mais
    rir um do outro meu bem então
    o que resta é chorar"

    Máscaras sociais que nunca acabam, nunca terminam, estão sempre presentes, nas pessoas mais variadas...

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